quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Review: O Milagre de Anne Sullivan



Os pais da pequena Helen descobrem que a criança, ainda no berço, é cega, surda, muda e virada do avesso (não, esse último é mentira). Alguns anos mais tarde, quando não sabem mais o que fazer a respeito da garota – inclusive levantando a possibilidade de interná-la em um asilo para débeis mentais – o capitão Keller e sua frágil esposa Kate decidem contratar a jovem e inexperiente professora Anne Sullivan para tentar educar a garota, apesar do fato de que Annie (como é carinhosamente chamada no filme), além de ter sérios problemas à vista, também tem sérios problemas DE vista (he,he, ai,ai...), tendo sido operada dos olhos nove vezes e ainda ser quase cega. O objetivo de Sullivan é tentar fazer Helen “se libertar”, se comunicar com o mundo, aprender as palavras e entender seus significados. O maior dilema da tutora é arrumar um jeito de fazer isso, e também driblar a inútil família da garota, que é menos uma ajuda do que um estorvo pelo fato de sempre terem mimado a menina e tratado-a como um animal doméstico. O pai é um homem antiquado e inflexível que está sempre com um pé atrás em relação aos métodos “radicais” e ao comportamento ousado de Annie. A mãe é claramente uma mulher fraca e sem atitude cujo desespero e indecisão em nada ajudam. E o meio irmão de Helen – filho do capitão Keller – é um jovem apático que se limita a fazer piadas sobre a situação da jovem. Viram? Eu não sou o único, então não me julguem!

Não é o bebê de Rosemary, mas foi foda.

Sullivan tentará ensinar a linguagem de sinais para Helen através do toque, já que o tato é o único meio de chegar até a menina. Ensinando os nomes das coisas à garota, o próximo passo será fazer a ligação das palavras aprendidas com seus significados reais, para então Helen começar a compreender o mundo ao seu redor. Claro que Annie não tem certeza se conseguirá cumprir tal missão escalafobética, principalmente no curto prazo dado a ela pelo cético capitão Keller (duas semanas).
Além disso tudo, a professorinha ainda tem que lidar com seus fantasmas do passado, pois teve uma infância traumática na qual foi internada em um asilo decadente (muito parecido com o qual queriam internar Helen) junto com seu irmão caçula e deficiente físico, que lá veio a falecer.

Sullivan ensinando a Helen os perigos que vai enfrentar quando conhecer rapazes. 


Nem sei o que dizer sobre as atuações das duas protagonistas. Ambas interpretam de maneira espetacular (paradoxo Mode: On). Anne Bancroft (a coroa que dá em cima de Dustin Hoffman em A Primeira Noite de Um Homem) está excelente como a determinada, sofrida, divertida e sarcástica Anne Sullivan. E Patty Duke não fica nada atrás como a garota isolada do mundo pela ausência dos sentidos, interpretando Helen de maneira tão realista e orgânica que prova que, se tivesse nascido mais pra cá, seria uma verdadeira criança índigo (joga no Google).
Existem várias cenas memoráveis entres as duas durante o filme, com destaque para aquela em que Annie tenta ensinar de qualquer jeito boas maneiras à mesa para Helen. São uns quinze minutos de porradaria na sala de jantar que deixariam Anderson Silva empolgadinho.

A direção também é muito competente. Simples e eficaz. O roteiro direto e suave se torna emocionante em muitos momentos. A película também é muito feliz nas metáforas ao decorrer dos ensinamentos de Sullivan. Um exemplo é a cena em que Helen segura um ovo de galinha que está se quebrando e de onde está saindo um pinto (Não, jegue! Tá saindo um texugo!). Helen segura o ovo para o rebento não escapar, mas Annie lhe diz que o animal tem que sair da casca um dia, e pede à menina que faça o mesmo. Também a alusão da alma de Helen presa em sua alma com a água embaixo da terra, e também a chave que Helen eventualmente carrega consigo, que indica sua libertação para o mundo.
Apesar de tratar de um tema bastante dramático, o filme não é pesado. Muitas vezes é engraçado, tem ótimos diálogos e situações divertidas. Isso tudo bem intercalado com alguns momentos sérios, outros tristes, outros belos e outros comoventes (como o final, por exemplo).

Eu também fazia isso quando criança. Não exatamente com tinta...

Dirigida por Arthur Penn e baseada na autobiografia de Helen Keller (sim, ela chegou ao ponto de conseguir escrever um livro! Pesquisem a vida dessa mulher), a obra foi transposta para as telas do cinema depois de seu enorme sucesso como peça teatral, que foi encenada inclusive pelas mesmas atrizes principais do filme, Anne Bancroft como Sullivan e Paty Duke como Helen.
O filme foi muito premiado em sua época (1962), recebendo dois Oscar - o de melhor atriz para Bancroft e melhor atriz coadjuvante para Duke - além de concorrer à melhor diretor, roteiro adaptado e figurino. Fora BAFTA, Globo de Ouro, entre outras premiações que fazem qualquer filme parecer mais importante (depois que descobri que Bastardos Inglórios concorreu ao Oscar minha vida mudou completamente, rapaz).
O filme foi refilmado duas vezes, mas ambas essas versões posteriores foram para a televisão. A primeira em 1979 e a outra em 2000. O curioso é que na versão de 79 quem interpreta Anne Sullivan é a própria Patty Duke, que aqui deu vida à jovem Helen (aliás, Duke neste filme aqui resenhado tinha 16 anos, mas nem parece). Ainda não vi esta versão dos anos setenta, mas fiquei curioso. Vou baixar hoje mesmo.

“Tem certeza que você quer esta maleta? Ela pode conter 
cinqüenta centavos ou um milhão de reaaaaiiisss!!”


Então galera, essa é minha dica de filme de hoje (e do mês, provavelmente). Não deixem de assistir, pois é uma verdadeira obra-prima que vale a pena conferir. Reassisti antes de escrever esta resenha e gostei tanto quanto da primeira vez.

Até a próxima. Boa noite e boa sorte!


8 comentários:

  1. Arthur Penn, o digníssimo responsável pelo petardo Bonnie and Clyde.

    Excelente filme, adoro Patty Duke (se é q me entende); e a Bancroft tem meu coração desde The Graduate. Mas a atuação q mais gosto dela é em O Homem-Elefante, um dos filmes mais fodas (únicos) do Lynch.

    Gosto muito desse filme, e acho tanto a fotografia quanto a forma de montagem levemente parecidas com as que Bergman costumava usar (não sei se concorda).

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  2. "Gosto muito desse filme, e acho tanto a fotografia quanto a forma de montagem levemente parecidas com as que Bergman costumava usar (não sei se concorda)" Vc se referiu ao Homem-Elefante ou ao Milagre de Anne Sullivan??

    Bom, eu tb gosto muito de O Homem-Elefante, embora faça muito tempo q o assisti. E caraca! Nem lembrava q a Bancroft tava nesse filme! Ela é akela atriz que o Hopkins levou John Merrick para conhecer, e ele ficou emocionado com ela e lhe disse algo como "Nunca uma moça tão bonita me elogiou assim"?? Wathever, tenho q ver de novo esse filme!

    E realmente, a Bancroft e a Patty duke tb tem lugar garantido in my heart.

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  3. Referia-me a "Anne Sullivan".

    E yep, é a própria. E tanto a Anne Bancroft quanto a Katharine Ross em The Graduate have one piece of my heart also. A Bancroft parece q quanto mais velha, mais sensual, cara.

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  4. Sempre me surpreendo ao passar por aqui. Já tive a oportunidade de ver este filme algumas vezes e confesso que não me canso. Um filme belíssimo da década de 60, enredo fantástico e emocionante.

    Quanto a sua pergunta; até dia 14/09 publicarei alguns textos relacionados ao filme, com biografias, curiosidades e opinião de quem assistiu. Aliás, como vi que gosta do filme, se quiser me enviar um texto com sua opinião (de 10 linhas), postarei no dia 14/09 pra encerrar o "Gabinete do Dr. Caligari".

    Até mais!

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  5. Putz, Márcio! A Katharine Ross realmente era um pitelzão!
    E concordo quanto a fotografia lebrar filmes do Bergman, aqueles tons P&B bem monocromáticos e vivos. Tipo A Hora do Lobo (brrr), etc.

    Valew Rubi! Tb gosto muito do filme. Vou escrever sim e te mando quando estiver pronto! XD

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  6. Meu professor de inglês passou esse filme esse ano ainda lá na escola: Foda! Só queria saber o que acontece depois, mostrando Hellen adulta, quando ela termina a faculdade...

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  7. Kelvin, ao que parece ela progrediu bastante e ficou muito famosa (esse filme é história real), escrevendo até um livro sobre sua vida. Deve ter muita coisa sobre ela na net, tenho até que procurar saber mais. Abss

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  8. é isso mesmo que eu disse, ela teve uma vida inteira pela frente após aprender a falar wahhdahh... Que o filme (baseado no livro baseado na vida dela) não mostrou.

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